Sobre abismos (epifania)

Eu tinha vários caminhos á minha frente.

Eu escolhi o primeiro e o adentrei.

A cada passo eu estava mais perto do meu destino.

A cada passo eu estava mais perto do meu final feliz.

Apesar de não enxergar o seu final, o caminho parecia satisfatório, talvez mais bonito que os outros, talvez mais fácil. Mas fui eu que escolhi, ninguém escolheu por mim, a partir daquele momento era somente eu. 

Depois de concentrar todos os meus esforços na caminhada, eu estava satisfeita, mas muito cansada. O caminho era mais árduo do que eu imaginava. Falaram que era difícil, mas não imaginava que seria assim. 

Até que uma coisa aconteceu. 

Uma coisa que me mudou pra sempre. 

Por alguns momentos parecia que meu mundo tinha se acabado. 

Logo após mais alguns passos, o chão à minha frente caiu. Não havia mais nada, somente um abismo.

Por que? Por que isso aconteceu? Eu caminhei muito, me dediquei por completo, dei tudo de mim. Eu fiz tudo que podia para seguir em frente, porque foi aquele que eu escolhi. Não havia margem para erros. Meus pés tinham calos, e meu corpo suava muito. Mas não foi só me corpo que sofreu, minha mente foi destruída. Depois de muito tempo naquele caminho minha cabeça já não funcionava direito. Meu cabelo havia começado a cair, minha garganta parecia me sufocar e meu coração estava sempre acelerado demais.

O abismo pareceu meu fim. Eu não merecia aquilo. Todo o meu tempo e dedicação haviam sido em vão?

Para ser sincera, eu pensei em me jogar naquele abismo. Não queria mais tentar nada. Já não restava mais nada de mim. Para mim, minha vida acabou assim que o abismo se abriu, mesmo que não tenha sido sob meus pés. Não faria diferença me jogar nele. 

Mas algo me impediu.

Algo fez eu voltar meu passos. 

A decepção sob meu corpo parecia cada vez mais pesada enquanto eu refazia meus passos de volta para o início do caminho. Tudo parecia tão injusto. Eu não merecia aquele destino? Eu não era digna de ver o que tinha depois?

Assim que eu voltei para estaca zero, eu finalmente sentei no chão e desabei. Mas não havia abismo ali. Então chorei por dias, talvez anos. Chorando e pensando no que eu havia feito de errado.

Depois do que pareceu uma eternidade, eu levantei, porque não tinha me jogado no abismo. Ainda bem que eu não tinha me jogado no abismo. Porque quando tomei coragem para ficar de pé e desviar o olhar do caminho que perdi, vi que haviam outros caminhos. Haviam muitos outros caminhos. Eu não sabia para onde eles me levariam, mas qualquer lugar parecia melhor do que lugar nenhum.

Então eu adentrei o caminho seguinte. Pisando de leve no chão, com medo de desabar. Só após alguns muitos passos eu tomei coragem para pisar com confiança de novo. Eu sabia que esse também poderia desabar a qualquer momento, mas dessa vez entrei sabendo de uma coisa que não considerei da primeira vez. Há outros caminhos. Aquele não é o único. Vai doer, mas se precisar, posso voltar alguns passos e tentar o próximo. E está tudo bem voltar. Eu só não posso me entregar aos abismos no caminho. Não mais.


Essa história não é sobre caminhos e abismos literais, mas acho que você já sabe disso


Mel



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